domingo, 21 de abril de 2013

Os "Soldados de Cristo" no poder - PARTE 2

Os "Soldados de Cristo" no poder - PARTE 2

Os Jesuítas no Brasil – Evangelização e Educação a serviço da fé
     
Pe. Manoel de Nóbrega
Liderados por Manoel de Nóbrega, os Jesuítas desembarcaram no Brasil em 1549, na comitiva do 1º Governador Geral, Tomé de Souza. A sociedade com a qual se depararam era, aparentemente, menos complexa em relação ao oriente. Tal crença resultou na perspectiva de uma catequização mais eficiente.
      Entretanto, a utilização de missionários dentro do universo indígena se mostrou repleta de perigos, e a solução encontrada foi a criação dos primeiros aldeamentos controlados pelos padres: as missões.
      A doutrinação foi iniciada de forma ampla, inclusive junto às crianças. A ”criação“ de novos cristãos se mostrou útil no futuro, por exemplo, na guerra contra os franceses, durante a ocupação da Guanabara.
      A capacidade de adaptação às realidades locais demonstrada em Os Soldados de Cristo no poder (parte 1) também foi utilizada com eficiência no Brasil. José de Anchieta escreveu, em 1556, uma Gramática que se tornou referência para todos os futuros missionários. Contrariando o paradigma estabelecido pelos europeus sobre a ausência de Deus, lei, Rei, pátria e razão, os Jesuítas identificam a humanidade dos nativos para atingir sua sensibilidade e integrá-los à fé cristã.
      As estratégias utilizadas eram baseadas em três princípios: os indígenas eram capazes de aceitar os sacramentos; eram livres e puros por natureza; existiam na forma de um “papel branco” no qual seria escrita a palavra de Deus. Baseados nesses princípios, esforçaram-se para, já no início, mudar dois costumes vistos como incompatíveis com a fé católica: poligamia e antropofagia. Os padres usavam a música, a dança, autos religiosos e procissões para atingir suas finalidades.
      As missões tornaram-se, portanto, a consubstanciação do projeto apostólico jesuíta. Nesses espaços, uma agricultura organizada e a produção de artesanato coexistiam com momentos de lazer e oração. Era uma experiência, polêmicas à parte, de expansão religiosa e civilizacional. A estrutura foi aceita pelo Estado, levando à criação, no ano de 1686, do Regimento das Missões, que dava aos Jesuítas a jurisdição espiritual e o controle da administração temporal. Estava criado o cenário para as animosidades com os colonos, ávidos pelo emprego da mão-de-obra indígena.
      Na educação, os inacianos não foram menos atuantes. A alfabetização dos nativos era acompanhada pelo ensino dos filhos dos colonos. No final do século XVIII já eram dezenove escolas. As disciplinas predominantes eram o Latim, a Filosofia e Teologia, visando à formação de novos missionários. Entretanto a preparação de novos padres não era a única função das escolas, pois a demonstração vocacional de determinados alunos era premiada com indicações para a Universidade de Évora (mantida pela Companhia) ou Coimbra, onde os Jesuítas possuíam relevante influência.
      Os colégios tornaram-se os principais centros culturais do Brasil. Os membros mais bem qualificados do clero passaram, possivelmente, pelas aulas de Teologia Moral ministradas pela Companhia de Jesus.

Missões e expansão territorial (Nordeste e Norte)

      Além de sua atuação no Rio de Janeiro e São Paulo, os Jesuítas foram fundamentais em missões no nordeste, norte e sul do Brasil, contribuindo decisivamente para o processo de expansão do território.
      A partir das chamadas missões volantes no Rio de Janeiro e Bahia, o padre Manoel de Nóbrega organizava o sistema. A abrangência do modelo mostra a capacidade organizacional dos Jesuítas, pois os aldeamentos ocupavam uma faixa de território compreendida entre Pernambuco e São Vicente. As sedes eram responsáveis pela catequese dos indígenas e estabelecimento de missões, colégios, Igrejas e seminários.
      Como era de se esperar, a Companhia não conhece limites. Restava agora a expansão até o Maranhão e o interior. Desta forma, os Jesuítas integraram-se ao próprio processo de interiorização colonial.
      No ano de 1575 chegam ao Rio São Francisco e ocupam Sergipe e Alagoas. São expulsos da Paraíba por colonos no final do século XVI, mas, disciplinados e persistentes, retornam no final do século XVII e fundam, em 1683, o Colégio da Paraíba (atual Faculdade de Direito). Após a ocupação de Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte e Maranhão, seguem a mais nova tendência do processo colonizatório: a interiorização rumo à Amazônia.
      Portugal ainda fazia parte da União Ibérica quando Felipe III, em 1618, criou o Estado do Maranhão que compreendia Maranhão, Pará, Amazonas, Amapá e Piauí. Liderados por Luís Figueira, a partir de 1607, expandiram suas ações até o Pará, nas regiões de Tocantins e Baixo Xingu. Fundaram, na metade do século XVII,
Conventos e colégios em São Luís e Belém.



Pe. Antônio Vieira
       Nesse contexto se destaca a figura do padre Antônio Vieira (1608-1698), que através de seus sermões defendeu novas leis referentes aos nativos, se posicionando contra o aprisionamento dos indígenas nas guerras promovidas pelos portugueses. Nesse período, as atividades jesuíticas atingiram seu auge. Entre suas posses aparecem dezessete aldeias, dois colégios, um seminário, além de vinte e cinco fazendas, três engenhos e uma olaria, que os tornaram autossuficientes economicamente, mas também alvo da cobiça e de inveja por parte dos colonos e da própria metrópole.

 Prof. Luiz Otávio Marques

Na próxima postagem, PARTE 3 – Os Jesuítas no sul, conflitos com os colonos, relações com a Metrópole e polêmicas acerca da ordem.

2 comentários: