Os "Soldados de Cristo" no poder - PARTE 2
Os Jesuítas no Brasil – Evangelização e Educação a
serviço da fé
Pe. Manoel de Nóbrega |
Entretanto,
a utilização de missionários dentro do universo indígena se mostrou repleta de
perigos, e a solução encontrada foi a criação dos primeiros aldeamentos
controlados pelos padres: as missões.
A
doutrinação foi iniciada de forma ampla, inclusive junto às crianças. A ”criação“
de novos cristãos se mostrou útil no futuro, por exemplo, na guerra contra os
franceses, durante a ocupação da Guanabara.
A
capacidade de adaptação às realidades locais demonstrada em Os
Soldados de Cristo no poder (parte 1) também foi utilizada com eficiência
no Brasil. José de Anchieta escreveu, em 1556, uma Gramática que se tornou
referência para todos os futuros missionários. Contrariando o paradigma estabelecido
pelos europeus sobre a ausência de Deus, lei, Rei, pátria e razão, os Jesuítas
identificam a humanidade dos nativos para atingir sua sensibilidade e
integrá-los à fé cristã.
As estratégias
utilizadas eram baseadas em três princípios: os indígenas eram capazes de
aceitar os sacramentos; eram livres e puros por natureza; existiam na forma de
um “papel branco” no qual seria escrita a palavra de Deus. Baseados nesses princípios,
esforçaram-se para, já no início, mudar dois costumes vistos como incompatíveis
com a fé católica: poligamia e antropofagia. Os padres usavam a música, a
dança, autos religiosos e procissões para atingir suas finalidades.
As
missões tornaram-se, portanto, a consubstanciação do projeto apostólico jesuíta.
Nesses espaços, uma agricultura organizada e a produção de artesanato
coexistiam com momentos de lazer e oração. Era uma experiência, polêmicas à
parte, de expansão religiosa e civilizacional. A estrutura foi aceita pelo
Estado, levando à criação, no ano de 1686, do Regimento das Missões, que dava
aos Jesuítas a jurisdição espiritual e o controle da administração temporal.
Estava criado o cenário para as animosidades com os colonos, ávidos pelo emprego da mão-de-obra indígena.
Na educação, os inacianos não
foram menos atuantes. A alfabetização dos nativos era acompanhada pelo ensino
dos filhos dos colonos. No final do século XVIII já eram dezenove escolas. As
disciplinas predominantes eram o Latim, a Filosofia e Teologia, visando à
formação de novos missionários. Entretanto a preparação de novos padres não era
a única função das escolas, pois a demonstração vocacional de determinados
alunos era premiada com indicações para a Universidade de Évora (mantida pela
Companhia) ou Coimbra, onde os Jesuítas possuíam relevante influência.
Os colégios tornaram-se os
principais centros culturais do Brasil. Os membros mais bem qualificados do
clero passaram, possivelmente, pelas aulas de Teologia Moral ministradas pela
Companhia de Jesus.
Missões e expansão territorial (Nordeste e
Norte)
Além de sua atuação no Rio de
Janeiro e São Paulo, os Jesuítas foram fundamentais em missões no nordeste,
norte e sul do Brasil, contribuindo decisivamente para o processo de expansão
do território.
A partir das chamadas missões
volantes no Rio de Janeiro e Bahia, o padre Manoel de Nóbrega organizava o
sistema. A abrangência do modelo mostra a capacidade organizacional dos Jesuítas,
pois os aldeamentos ocupavam uma faixa de território compreendida entre
Pernambuco e São Vicente. As sedes eram responsáveis pela catequese dos
indígenas e estabelecimento de missões, colégios, Igrejas e seminários.
Como era de se esperar, a
Companhia não conhece limites. Restava agora a expansão até o Maranhão e o
interior. Desta forma, os Jesuítas integraram-se ao próprio processo de interiorização
colonial.
No ano de 1575 chegam ao Rio
São Francisco e ocupam Sergipe e Alagoas. São expulsos da Paraíba por colonos
no final do século XVI, mas, disciplinados e persistentes, retornam no final do
século XVII e fundam, em 1683, o Colégio da Paraíba (atual Faculdade de
Direito). Após a ocupação de Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte e Maranhão,
seguem a mais nova tendência do processo colonizatório: a interiorização rumo à
Amazônia.
Portugal ainda fazia parte da
União Ibérica quando Felipe III, em 1618, criou o Estado do Maranhão que
compreendia Maranhão, Pará, Amazonas, Amapá e Piauí. Liderados por Luís
Figueira, a partir de 1607, expandiram suas ações até o Pará, nas regiões de
Tocantins e Baixo Xingu. Fundaram, na metade do século XVII,
Conventos e colégios em São Luís e Belém.
Pe. Antônio Vieira |
Prof. Luiz Otávio Marques
Na próxima postagem, PARTE 3 – Os Jesuítas no sul, conflitos com os
colonos, relações com a Metrópole e polêmicas acerca da ordem.
Muito bom! Parabéns
ResponderExcluirmuito bom parabens
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